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Os seres vivos desenvolveram ao longo de sua história evolutiva mecanismos de enfrentamento às condições adversas originadas tanto no ambiente geofísico como no ambiente social.

Esta resposta adaptativa é coordenada e envolve diferentes sistemas funcionais, particularmente, os sistemas nervoso, endócrino e imune, e é denominada de resposta ao estresse e deve atender a duas demandas principais da vida: sobrevivência e reprodução.

Há séculos nós médicos somos familiarizados com um conceito chamado HOMEOSTASE. Como pode-se ver, temos aqui algo muito antigo e consolidado, cujas fontes originais remontam os séculos XIX e início do século XX.

Mas Medicina não é uma ciência estática. Os sistemas de regulação homeostática visam restabelecer o equilíbrio do indivíduo durante as condições normais de regulação para manutenção do organismo em harmonia com situações que se alteram transitoriamente como, por exemplo, após a ingestão alimentar, durante o sono, durante a uma relação sexual, etc.

Todavia, quando ocorrem desafios impostos pelo ambiente social, físico, ou ambos, de maneira inesperada ou contínua, ultrapassando limites de intensidade, previsibilidade e duração, são ativados mecanismos que passam a regular a homeostase em níveis mais elevados de demanda, o que foi chamado por autores do início deste século de alostase, e os respectivos mecanismos alostáticos.

ALOSTASE tem menos a ver com EQUILÍBRIO e mais a ver com ADAPTAÇÃO

Um tanto Darwinista este pressuposto… será?

Na verdade, o conceito de alostase amplia e adequa o conceito de homeostase aos conhecimentos recentes da fisiologia, levando a uma nova visão sobretudo em relação à resposta ao estresse.

Enquanto que o conceito clássico prevê o funcionamento do organismo em condições basais, independentemente da demanda a qual está sujeito, a teoria da alostase distingue que os organismos podem funcionar em diferentes condições de ajustes, desde que estas novas condições possibilitem uma melhor adaptação ao meio.

A demanda para o estabelecimento de uma nova condição de ajuste pode ser desencadeada por agentes internos (mecanismos genéticos, neurais ou hormonais) ou externos (ambiente físico e social), previsíveis ou não, como acontece nos casos de ocorrência inesperada de um forte agente estressor.

​A ampliação do conceito de homeostase a partir da “Teoriada alostase” propõe que a ativação dos sistemasalostáticos geram um custo energético ao organismo, denominadode carga alostática que, quando em excesso, pode desencadearpatologias físicas e transtornos mentais, situação conhecida como “sobrecarga alostática”.
Ainda mais recentemente foi adicionado um novo conceito a esta teoria: a “falha alostática”. Seria a incapacidade de ativar os sistemas alostáticos diante de uma demanda estressora prolongada, também levando a processos patológicos, por inaptidão do organismo em responder adequadamente às suas necessidades.

Mas atenção! A ativação dos sistemas alostáticos não ocorrem apenas durante situações de crise, ou seja, de estresse, e da mesma forma, nem sempre haverá o desencadeamento de doenças. Tais sistemas também são ativados durante demandas previsíveis, triviais, vinculadas ao ciclo de vida do organismo. Mesmo em situações de estresse, se o custo energético não for demasiado, não haverá prejuízo ao organismo, e nenhum processo patológico será desencadeado. São situações onde, apesar da carga alostática não há prejuízo do orçamento corporal

Então vamos resumir: carga alostática é “o desgaste do corpo” causado pela necessidade de ajustes no orçamento corporal, que ocorre de modo acumulativo quando um indivíduo é exposto a estresse repetido (crônico) ou agudo mas extremamente intenso. O termo foi cunhado por Bruce McEwen e Stellar em 1993. Em termos técnicos, representa as consequências fisiológicas da exposição contínua a flutuações ou aumento nas respostas neuroendócrina e imuno-inflamatória relacionada ao estresse.

Modelo regulatório

A regulação preditiva ou estabilização de sensações internas em resposta a estímulos é atribuída ao cérebro. A alostase envolve a regulação da homeostase para diminuir as consequências fisiológicas sobre o corpo.

A regulação preditiva se refere à capacidade do cérebro de prever as necessidades e se preparar para atendê-las antes que surjam.

Parte de uma regulação eficiente é o que podemos chamar de “redução da incerteza”. Os humanos, naturalmente, não gostam de sentir que a surpresa é inevitável. Por causa disso, nos esforçamos constantemente para reduzir a incerteza de resultados futuros, e a alostase nos ajuda a fazer isso antecipando as necessidades e planejando como satisfazê-las com antecedência.

Mas é necessária uma quantidade considerável de energia do cérebro para isso e, se a incerteza se mantiver, a situação pode se tornar crônica e resultar no acúmulo de carga alostática.

O conceito de carga alostática prevê que “as respostas neuroendócrinas, cardiovasculares, neuroenergéticas e emocionais tornam-se persistentemente ativadas de modo que turbulências do fluxo sanguíneo nas artérias coronárias e cerebrais, aumento da pressão arterial, aterogênese, disfunção cognitiva e humor deprimido aceleram a progressão de diversas doenças”.

Todos os efeitos de longa data de respostas ao estresse continuamente ativadas aumentam a carga alostática. Por sua vez, a manutenção de uma elevada carga alostática pode resultar em alterações permanentes da arquitetura do cérebro e da fisiologia sistêmica.

Tipos de carga alostática

McEwen e Wingfield propõem dois tipos de carga alostática com diferentes etiologias e consequências:

A carga alostática tipo 1: ocorre quando a necessidade de energia excede o fornecimento, resultando na ativação do estágio de “históricos de vida de emergência”.

Isso serve para desviar o animal dos estágios normais da história de vida para um modo de sobrevivência, visando aumentar a carga alostática para recuperar o balanço energético positivo – pense em algo como um estado letárgico ou em condições extremas até um estado vegetativo.

O ciclo de vida normal pode ser retomado quando a perturbação tiver passado. Situações típicas que terminam em alostase tipo 1 são fome , hibernação e doenças críticas . É importante notar que as consequências fatais de doenças críticas podem ser causas e/ou consequências de uma carga alostática alta.

A carga alostática do tipo 2: resulta do consumo de energia suficiente ou mesmo em excesso, sendo acompanhado por conflito social ou outros tipos de disfunção ambiental estressora. Este último é o caso da sociedade humana e de certas situações que afetam os animais em cativeiro.

Em todos os casos, a secreção de glicocorticóides, a atividade do sistema nervoso autônomo, os neurotransmissores do SNC e as citocinas inflamatórias aumentam e diminuem com a carga alostática o que é diretamente relacionado ao conflito / estresse.

Há energia, portanto, os mecanismos alostáticos de adaptação estarão sempre agindo, aumento a carga alostática o que, com o passar do tempo (cronicidade) pode gerar doenças. A sobrecarga alostática do tipo 2 não desencadeia uma resposta de sobrevivência e só pode ser neutralizada por meio de aprendizado e mudanças na estrutura social.

Medição

A carga alostática é geralmente medida por meio de um índice composto de indicadores de deformação cumulativa em vários órgãos e tecidos, principalmente biomarcadores associados aos sistemas neuroendócrino, cardiovascular, imunológico e metabólico.

Os índices de carga alostática são diversos e frequentemente avaliados de forma diferente, usando biomarcadores diversos e/ou métodos de montagem de um índice de carga alostática. A carga alostática não é exclusiva dos humanos e também pode ser usada para avaliar os efeitos fisiológicos do estresse crônico ou frequente em primatas não humanos.

No sistema endócrino, o aumento ou repetição dos níveis de estresse resulta no aumento dos níveis do Fator de Liberação de Corticotropina (CRH), que está associado à ativação do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HPA). Este eixo é o sistema central de resposta ao estresse, responsável por modular a inflamação em todo o corpo.

Níveis de estresse prolongado podem intensificar a diminuição dos níveis de cortisol pela manhã e o aumento dos níveis à tarde, ou seja, uma maior produção diária de cortisol. Isso, a longo prazo, aumenta os níveis de açúcar no sangue.

No sistema nervoso, as anormalidades estruturais e funcionais são resultado do estresse crônico prolongado. O aumento dos níveis de estresse causa um encurtamento dos dendritos dos neurônios. O encurtamento dos dendritos causa a diminuição da atenção. O estresse crônico também causa maior resposta aos medos incultos no sistema nervoso e condicionamento ao medo (parte disso é o que podemos chamar de ansiedade).

No sistema imunológico, o estresse crônico resulta no aumento da inflamação. Isso é causado pela ativação contínua do sistema nervoso simpático. Além disso, ocorre o comprometimento da imunidade adquirida (mediada por células) no estresse crônico. Isto justifica muitos desfechos negativos observado em insultos agudos como traumas, doenças infecciosas e mesmo cirurgias.

Relação entre alostase e homeostase

A maior contribuição para o aumento da carga alostática é o efeito do estresse no cérebro. A alostase é o sistema que ajuda a atingir a homeostase. A homeostase é a regulação dos processos fisiológicos, por meio dos quais os sistemas do corpo mantém um relativo equilíbrio interno, independente do meio externo.

Um dos grandes contribuintes para a carga alostática é a alostase de antecipação (alostase preditiva). A antecipação pode impulsionar a saída de mediadores. Exemplos de mediadores incluem hormônios como o cortisol.

Além disso, alostase e carga alostática estão relacionadas à quantidade de comportamentos insalubres, como por exemplo, privação de sono, tabagismo, consumo de álcool, dieta inadequada e inatividade física.

Note que 3 processos fisiológicos causam um aumento na carga alostática:

  1. Estresse frequente: a magnitude e a frequência da resposta ao estresse é o que determina o nível de carga alostática que afeta o corpo.
  2. Falha no desligamento: a incapacidade do corpo de desligar enquanto o estresse se acelera e os níveis no corpo excedem os níveis normais, por exemplo, pressão arterial elevada.
  3. Resposta inadequada: a falha dos sistemas do corpo em responder ao desafio, por exemplo, níveis excessivos de inflamação devido a respostas inadequadas de glicocorticóides endógenos.

A importância da homeostase é regular os níveis de estresse encontrados no corpo para reduzir a carga alostática. A alostase disfuncional faz com que a carga alostática aumente, o que pode, com o tempo, levar à doença, às vezes com descompensação do problema controlado alostaticamente.

Os efeitos da carga alostática podem ser medidos no corpo. Quando tabulado na forma de índices de carga alostática usando métodos analíticos sofisticados. Isso dá uma indicação dos efeitos cumulativos ao longo da vida de todos os tipos de estresse no corpo.

Implicações da carga alostática na saúde

O aumento da carga alostática constitui um risco significativo à saúde. Vários estudos documentaram uma forte associação da carga alostática elevada e incidência de doença cardíaca coronariana, alteração de marcadores relacionados a saúde cardiovascular e para desfechos rígidos, incluindo maior mortalidade. Os mediadores que conectam a carga alostática à morbidade e mortalidade incluem a função do sistema nervoso autônomo, citocinas e hormônios do estresse, por exemplo, níveis de catecolaminas, cortisol e hormônios da tireoide.

Reduzindo o risco

Para reduzir e gerenciar altas cargas alostáticas, um indivíduo deve prestar atenção aos fatores estruturais e comportamentais.

Os fatores estruturais incluem o ambiente social e o acesso aos serviços de saúde. Os fatores comportamentais incluem dieta adequada, atividade física e abolição de hábitos/comportamentos que podem levar a doenças crônicas.

O baixo nível socioeconômico afeta a carga alostática. Reduzir a polarização social, a privação material e as demandas psicológicas sobre a saúde ajuda a controlar a carga alostática. O suporte da comunidade e do ambiente social pode gerenciar alta carga alostática.

As intervenções podem incluir o incentivo à qualidade do sono, apoio social, autoestima e bem-estar, melhoria da alimentação, evitar o consumo de álcool ou drogas e participar de atividades físicas. Práticas mente-corpo: Meditação, Hipnose, Yoga,

A carga alostática difere por sexo e idade. Fatores de proteção poderiam, em vários momentos da vida de um indivíduo, ser implementados para reduzir o estresse e, a longo prazo, eliminar o início da carga alostática.

Os fatores de proteção incluem vínculo parental, educação, apoio social, locais de trabalho saudáveis, um senso de significado em relação à vida e escolhas feitas, e sentimentos positivos em geral. Isso pode incluir o uso de abordagens baseadas em maior resiliência, inteligência emocional e compaixão.

Está tônica está habitualmente presente nos movimentos de terceira ou quarta onda de psicoterapia como A TCD (Terapia Comportamental Dialética), a FAP (Terapia Analítica Funcional), Terapia Comportamental Baseada em Mindfulness, Modelagem Simbólica, Hipnoterapia Cognitivo Comportamento, entre outros modelos centrados na pessoa e no sistema onde ela está inserida.

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