Somos hoje o fruto do que aprendemos. E aprendemos o que experienciamos. Somos seres moldados com base em uma “pré programação” biológica e no ambiente em que nascemos, crescemos e vivemos. Tudo que nos cerca nos influencia.
O modo como nos relacionamos uns com os outros nos diz muito sobre isso. Quando nascemos, além dessas nossas tendências inatas que, ao menos em uma de suas facetas compõe o que na Medicina chamamos de temperamento, as pessoas e o ambiente em nossa volta passam a ter um papel fundamental em nosso desenvolvimento humano.
Há casos onde ocorrem choques entre esta pré programação e o ambiente que estamos inseridos. Assim, a maneira como somos tratados e tudo que passamos na infância podem definir nosso futuro, tanto para o bem ou para o mal.
Quando você cresce em um ambiente familiar disfuncional está susceptível a eventos que podem levar ao desenvolvimentos de sequelas emocionais, e isto pode afetar a forma que você se relaciona com as pessoas.
Essas situações podem trazer uma bagagem emocional distorcida para uma vida inteira, onde as relações são carregadas de controle, manipulação, colocando muitas vezes o indivíduo em uma convivência destrutiva.
E isso não influencia a forma que a pessoa se relaciona apenas com a família, mas também nos relacionamentos conjugais, círculos de amizades, trabalho e com todas as pessoas que irá conviver.
Sabendo de tudo isso, o psiquiatra Stephen Karpman escrever em 1968 um modelo das relações interpessoais, um ‘conto de fadas de peça teatral’, chamado de Triângulo Dramático de Karpman. Onde ele descreve que: existem pessoas capazes de manipular umas às outras, dependem umas das outras e as que se cansam disso. Em tais situações, há pouquíssima felicidade e poucas forças para mudar a situação.
Temos então o Triângulo Dramático de Karpman, modelo onde a pessoa tende a se colocar ou oscilar entre um destes três papéis: ‘PERSEGUIDOR’ , o ‘SALVADOR’ e a ‘VÍTIMA’.
Conheça cada papel do Triângulo Dramático de Karpman
➡️ Perseguidor
O perseguidor, juiz ou algoz, é uma pessoa que interpreta um papel em que ele torna-se extremamente rude, grosseiro, crítico e ditador. Ele sempre culpa todo mundo do que acontece com ele, apresentam uma personalidade mais raivosa, uma agressividade no falar e na forma em que expõe suas opiniões, geralmente são pessoas que acreditam estarem sempre certas e apresentam a verdade absoluta sobre tudo e sobre todos, o perseguidor possui um forte sentimento de despejar a sua raiva sobre outros.
Ele não consegue acessar a própria vulnerabilidade interna, colocando isso para fora sempre culpando os outros, por essas crises de raiva . Nesse aspecto, quando mais profundo, ele acaba possuindo atitudes problemáticas, como humilhar e julgar os outros de uma forma bem severa, porém ele também pode agir de uma forma mais disfarçada, em tons de ameaça.
De forma resumida, ele está sempre apontando os erros dos outros, criticando, e não é uma crítica construtiva, mas sim, de humilhação, sempre mostrando que ele é o certo e superior, e você é o inferior.
No fundo essas pessoas são bastantes vulneráveis e inseguras, por esse motivo entram em um complexo de superioridade e se afirmam humilhando os outros, geralmente não aprenderam a expressar seus sentimentos e muitas vezes não existe essa permissão no ambiente familiar e no meio social em que vivem.
A maioria dos perseguidores são pessoas que passaram por traumas familiares, como abuso sexual e violência dentro dos seus lares, então acreditam que a forma de se afirmarem é através de atitudes agressivas.
➡️ Salvador
O papel do salvador (ou herói), o próprio nome já diz, ele quer salvar o outro e, acreditem, é muito comum encontrá-lo. Esse quer ajudar todo mundo, acha que é responsável pela felicidade das pessoas, muitas vezes se prejudicando por carregar o mundo nas costas. Ele ajuda as pessoas, mesmo que essas não peçam ajuda. São pessoas muito lembradas e queridas por todos pela realização desses atos de ‘sacrifício’.
Sua principal dificuldade é não colocar limites, e dizer não, então ele vai querer agradar todo mundo. Na maioria das vezes essas são pessoas que carentes de amor na infância e agora querem receber atenção, para isso eles querem provar que merecem atenção e serem amadas.
Um outro aspecto é a carência por reconhecimento e aceitação, muitas vezes privada na infância, o que gera um adulto sem auto reconhecimento e aceitação.
Assim, ele passa a procurar por esta aceitação e reconhecimento que não encontra em si mesmo fora, nos outros. Uma das maneiras de ser aceito e reconhecido pelo grupo pode ser o “nunca dizer não”. Afinal, uma pessoa que sempre diz SIM, corre menos risco de ser criticada e isso satisfaz a sua necessidade de se sentir aceito e reconhecido pelos outros.
São inseguros, e muitas vezes podem se tornar agressivos à ponto de mudarem o papel de salvador para perseguidor. Estas oscilações de papéis no Triângulo Dramático de Karpman são muito comuns.
Um dos principais problemas é que essa é uma atitude manipuladora, ou seja, geralmente, ela ajuda não por ver que os outros precisam e sim porque acredita que a pessoa ajudada vai amá-la por isso.
Costumam se sentir extremamente tristes quando acham que alguma atitude causou mal para alguém, estão sempre tentando evitar conflitos e muitas vezes não expõem suas ideias e entram em um papel de submissão.
Eles ajudam os outros, até mesmo de uma forma intrometida e, geralmente, não resolvem nem os próprios problemas.
➡️ Vítima
Corresponde a quem adota uma atitude de temor e passividade frente ao que está no ambiente. Sente que os demais o tratam mal e que não merece isso, mas também não faz nada para sair dessa situação.
A pessoa que possui essa personalidade, não consegue fazer nada sozinha, acha que é incapaz, precisa sempre de alguém com ela para ajudá-la e possui um complexo de inferioridade muito grande.
Outro fator também, é que esta nunca se responsabiliza por nada, pois além de não conseguirem fazer nada sozinhas, também não se esforçam, sempre possuem muitas desculpas para tudo e não fazem nada por si mesmas.
Triângulo Dramático de Karpman: Como é a dinâmica na mudança de papéis
Os vínculos são realizados dentro de um triângulo, dando forma à uma comunicação na qual costuma predominar jogos psicológicos ocorrendo trocas falsas que instalam papéis dramáticos.
Geralmente o salvador, fica cansado de defender a vítima e em algum momento se torna o perseguidor, é também comum que a vítima, se transforme no perseguidor daquele que a persegue ou até mesmo do seu salvador. O perseguidor, por fim, em algum momento, acaba se tornando o salvador após um ato de constrangimento.
Essas pessoas mudam de papel, e o esquema desse triângulo continua.
Como posso sair desses papéis?
🔹 Perseguidor
Para sair desse papel é essencial entender que todos tem falhas, considere as pessoas de uma forma mais ampla, entenda as pessoas não apenas com o erro que cometem.
É importante assumir a sua insegurança e reconhecer isso dentro de você, pois isto faz parte da nossa natureza humana. Outro ponto é parar de culpar os outros pelos seus acessos de raiva, essas podem até ser acionadas por algum evento estressante, mas saiba que ela vem de dentro de você e de motivos mais antigos, como a sua estrutura familiar.
E o mais importante, pergunte-se! Qual seria sua reação se alguém lhe tratasse do jeito que você trata as outras pessoas?
🔹 Salvador
Primeiramente você só deve ajudar pessoas que pedem a sua ajuda, não ache que você sabe o que é melhor para elas, você pode ajudá-las, mas não imponha essa ajuda.
Aprenda a dizer não, e pergunte-se se você realmente quer ajudar o outro e qual motivo leva a você a oferecer essa ajuda?
Tenha momentos de lazer, divirta-se e faça coisas para você.
🔹 Vítima
Pergunte-se: como posso cuidar de mim?
Comece a se olhar e procurar aspectos positivos em si, procure resolver os problemas sozinho, deixar de procurar ajuda de outros e assuma as responsabilidades pela suas próprias escolhas e decisões. E principalmente aprenda a se amar.
Hipnoterapia e o Triângulo Dramático
A hipnoterapia pode ajudar nestes conflitos relacionados ao “viver preso” aos personagens ao triângulo dramático. Neste contexto, dou destaque à técnica preconizada pelo médico neurocirurgião Dr. Carlos Alberto Ribeiro, sintetizadas no protocolo Decodificação Mente Corpo (DMC).
Uma das abordagens da DMC, inclui a chamada Terapia Hipnótica Sistêmica. Em suma, este processo visa a reativação de competências úteis, recursos, padrões de experiências, dentro de uma pessoa para atingir os seus objetivos terapêuticos.
O uso da hipnose se torna particularmente interessante uma vez que ninguém pode “preencher” as competências em uma pessoa com recursos vindos do lado de fora. Todos os resultados de pesquisas em neurobiologia moderna do cérebro mostram claramente que toda experiência é criada de forma autônoma dentro da pessoa.
A hipnose direciona a atenção do indivíduo para a sua própria subjetividade. Ninguém pode ver o mundo da maneira como ele pode ser objetivamente, sempre vemos e o experimentamos com base em nossa organização interna estruturalmente determinada.
Assim a hipnose será um meio catalizador para a reativação de competências que estão “armazenadas” no repertório inconsciente de experiência da própria pessoa.
As pesquisas sobre a memória autobiográfica nos mostram que os seres humanos armazenam em sua mente um repertório de experiência-potenciais, cada experiência em sua vida que está relacionada com alguma intensidade emocional (qualquer que seja essa emoção).
Isso também significa que, neste grande repertório inconsciente de memórias autobiográficas que são construídas por aprendizagem de uma ampla gama de experiências durante a nossa vida, armazenamos muitas competências e potenciais úteis (memorias episódicas).
Muitas vezes bloqueamos o acesos a essas competências inconscientes. A Terapia Hipnótica Sistêmica oferece uma possibilidade para ajudar as pessoas a abrirem novamente o acesso útil a essas competências. E isso será feito levando-se em consideração as leis sistêmicas de pertencimento, hierarquia, equilíbrio entre dar e receber e tempo/espaço que compõem o mundo interno do cliente, construído desde gestação em seu mundo intrauterino e infância.
Nesta abordagem somos capazes de identificar as desordens emocionais e desequilíbrios na construção do feminino e masculino que o cliente carrega. O feminino é responsável pelo autocuidado, saúde e prosperidade pessoal e vinculo familiar.
O masculino pelo trabalho, explorar e conquistar o mundo. Através da hipnose o cliente será conduzido a uma reorganização interna das forças que o compõe, processo este que trás muito entendimento e esclarecimento, bases do processo de mudança.