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Estima-se que a fibromialgia atinge cerca de 2 a 4% da população mundial. Isto significa que à cada 100 pessoas no mundo, duas a quatro delas sofrem de fibromialgia. Se considerarmos o Brasil, com seus mais de 210 milhões de habitantes, este número é muito preocupante.

A Fibromialgia é uma síndrome de dor crônica complexa que inclui uma ampla gama de sinais e sintomas com efeitos sistêmicos e consequências extremamente debilitantes para os pacientes afetados.

Segundo estudos a condição pode ser associada a outros problemas como: alterações de humor, ansiedade, fadiga crônica e síndrome do intestino irritável. Os sintomas podem ser exacerbados por alterações hormonais, aumento do estresse físico ou psicológico, mudanças de temperatura e alterações na dieta ou sono.

A fibromialgia tem cura?

Do ponto de vista cientifico, até o momento não há cura definitiva para a fibromialgia. O tratamento consiste no controle dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida. Uma abordagem integrativa e individualizada é a mais indicada para estes casos, pois ela se concentra em cada caso, considerando as necessidades do estilo de vida, uso de medicações e outras abordagens complementares.

Em relação ao conhecimento da doença, nas últimas décadas temos progredido em aspectos relacionados a resposta imune-inflamatória destes pacientes. Porém, há um caminho longo a ser percorrido para entender como estes sintomas são ativados a ponto de se tornar um problema de grande impacto na qualidade de vida dessas pessoas.

Causas

Quais as razões para sua incidência tão significativa? E se é possível que haja fatores genéticos envolvidos no seu desenvolvimento?

Estudos da associação do genoma investigaram genes potencialmente envolvidos na fibromialgia, destacando que fatores genéticos são possivelmente responsáveis por até 50% da suscetibilidade à doença. Mas, ainda que estes componentes genéticos existam, o que faz com que se expressem levando à síndrome, particularmente entre os 20 à 40 anos, e por que ele atinge mais as mulheres?

A partir destas perguntas, tenho estudado e me interessado cada vez mais pelas questões relacionadas ao nosso aparelho psíquico que podem estar por trás da verdadeira origem desta doença, assim como de diversas outras.

Partimos então para a investigação do universo das causas emocionais. Hoje já sabemos pela ciência que existe uma forte relação entre os conteúdos psíquicos e o desenvolvimento das respostas inflamatórias. Ao chegar neste ponto a pergunta é: do ponto de vista psicoemocional o que estes pacientes têm em comum?

Diversos terapeutas em todo mundo têm observado que muitos pacientes fibromialgicos apresentam fortes conflitos emocionais ligados a DESVALORIZAÇÃO e IMPOTÊNCIA.

Falamos aqui da manifestação, que pode ser de matéria consciente ou não, de um afeto ligado a incapacidade de agir, ao não dar conta de todos ao seu lado, sensação de impotência, de desvalorização, vazio existencial profundo, ao sentir-se pressionado de todos os lados.

Pessoas que demonstram uma grande dependência emocional aliada a um anseio frustrado de valorização. São muitas vezes bastantes serventes à família e aos outros. Colocam suas necessidades em função das necessidades dos outros e a sua vida acaba girando em torno da família e/ou pessoas próximas, o que acaba por as anular pessoalmente.

Quando surgem dificuldades ou contrariedades com os seus, não se conseguem afirmar e subjugam-se totalmente. Ao longo do tempo, tendem a acumular dor e sofrimento por não assumirem o seu próprio caminho.

Sempre que ambicionam a independência e a liberdade, são oprimidos por um forte sentimento de culpa que lhes diz que estão a trair o seu “dever” para com os outros ou o que supostamente os outros esperam dela.

Podemos dizer que a sua necessidade vital arcaica em assumir a sua individualidade, desejos e vontades, é oprimida pelas obrigações com os outros.

Duas forças psíquicas opostas que criam um fenómeno psicossomático onde a força da expansão da vida compete contra a força das obrigações auto impostas. Trata-se de um fenómeno inconsciente em que existem impulsos para direções opostas dentro de um mesmo indivíduo. A fibromialgia pode ser, por esta visão, a consequência deste conflito.

Outros exemplos deste afeto estão presentes nas contrariedades emocionais que as amarras familiares ou sociais podem causar como as situações que envolvem amor e ódio, atração e repulsão, liberdade e submissão, prazer e dever.

Indetectável nos exames complementares

Se considerarmos a fibromialgia como um sintoma fruto de um sofrimento causado por estas profundas questões enraizadas no inconsciente, poderemos entender o motivo do transtorno não ser detectado através de exames complementares ou a inexistência de lesões orgânicas específicas.

Obviamente, este é um forte obstáculo ao raciocínio médico uma vez que não se acha no corpo uma relação de causa e efeito. Deveras, esta relação parece estar nos domínios da mente. Muitos pacientes com este problema possuem uma evidente dependência emocional, na maioria das vezes tendo como eixo central à família e tendo por base a constante carência de reconhecimento e valor.

Tendo por base fundamentos de ciências naturais e processos biológicos compreensíveis no contexto da evolução, a fibromialgia pode ser vista como a interação de conflitos tendo como pano de fundo a desvalorização e impotência (“Não posso com isto, é demasiado pesado para mim”, “ Se me movo para um lado não estou bem, se me movo para o outro também não estou bem, portanto não me movo”. “Não sou capaz”, “Não posso lutar”) afetando os ligamentos, tendões e músculos de modo associado ou não a outras questões que são sumarizadas abaixo:

  • Conflito do “animal perdido”: “Não sei o que fazer”; “Não sei onde ir”. “Sinto pânico em enganar-me no caminho”. Trata-se de um conflito gerado pelo medo de ter escolhido a pior direção, o caminho errado, quer este seja real ou imaginado / simbólico. “A direção que tomo na minha vida não me satisfaz… Que estou fazendo aqui?” Como se sente perdido ou fora do rebanho, o doente (animal perdido) entende que a melhor solução é ficar quieta(o). O efeito biológico desta tensão ocorre no córtex das glândulas suprarrenais, alterando a produção de cortisol, o que explica o excesso de sono pela manhã destes pacientes e a falta de ânimo.
  • Conflito de contato familiar imposto: “Devo cuidar de… estar sempre com… viver com… ter que assumir ou obrigar-se a uma situação ou alguém”.
  • Medo da morte ou da inexistência: Este é o conflito emocional mais arcaico e profundo. “Se não for fiel à minha família, eu não tenho razão nenhuma de existir.” É um problema de identidade, como se a existência dependesse só de um comportamento servil para com o outro. Pensar o contrário, leva a um forte sentimento de medo e culpa, que por sua vez explica a falta de assertividade e a ausência de prazer em viver.

É comum nestes pacientes que seus familiares ou pessoas próximas, acabem por refletir as suas próprias carências emocionais e os menosprezam. Os doentes com fibromialgia acabam por ser as pessoas que são as mais criticadas, desvalorizadas e repreendidas pela família e pelo meio social a que pertencem.

Como tratar a fibromialgia?

O tratamento é mais eficaz com uma abordagem multidisciplinar que pode combinar terapias não farmacológicas e farmacológicas. O objetivo da terapia é reduzir os principais sintomas, incluindo dor crônica generalizada, fadiga, insônia e disfunção cognitiva.

A atividade física pode melhorar significativamente a dor e a função, especificamente, o treinamento aeróbico é recomendado. É importante ressaltar que, de certa forma validando tudo que falamos até aqui, a ciência tem observado que os medicamentos usados para fibromialgia geralmente têm eficácia variável, limitada ou de curto prazo.

No que tange às terapias complementares, é muito importante que se esteja atendo à segurança e a eficácia destes métodos. Devemos sempre lembrar que as práticas de *Medicina Integrativa* devem zelar pelas melhores evidências.

Em uma revisão internacional de três diretrizes de medicina baseadas em evidências, as recomendações diferiram em relação às várias e diferentes práticas complementares, mas todas favoreceram abordagens individualizadas para o paciente.

Pesquisas mais extensas em relação à eficácia e segurança de longo prazo destes tratamentos nos capacitarão a incorporar terapias benéficas ao padrão de atendimento e eliminar práticas prejudiciais.

Por tudo que falamos neste texto, torna-se clara necessidade da aplicação de terapias envolvendo a mente. Acompanhamento psicológico e em alguns casos psiquiátrico se faz necessário. Adicionalmente, tenho utilizado intervenções na esfera cognitivo-comportamental e técnicas psicodinâmicas catalisadas com o recurso da Hipnose Clínica com excelentes resultados em minha prática pessoal.

Além das possibilidades no terreno da hipnoanálise, no aspecto da dor crônica, o condicionamento do relaxamento que pode ser alcançado pelo uso da Hipnose é também uma ferramenta de grande valia.

Nestes pacientes tenho ainda visto a enorme eficácia do uso do Mindfulness, estratégia que tem sido respaldada por muitos autores em diversas publicações científicas.

Os protocolos baseados no que foi inicialmente proposto por Jon Kabat-Zinn no Centro Médico da Universidade de Massachusetts pelo programa de Redução de Estresse Baseado em Mindfulness (MBSR) têm sido testados com resposta satisfatória.

Trata-se de abordagens promissoras, que podem melhorar muito os sintomas da fibromialgia e dar uma novas contribuições para a compreensão da doença.

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