Telefone/WhatsApp

(65) 9 9649-1721

Email

dr.albertobicudo@gmail.com

O objetivo deste post é buscar responder se medicamentos e terapia podem coexistir em harmonia como parte de um tratamento médico. Neste contexto, vou procurar tambem responder uma pergunta que muitas vezes me fazem: qual a diferença entre a terapia aos moldes tradicionais da terapia com hipnose?

É muito comum falarmos em terapia quando o assunto envolve temas do domínio da psiquiatria. Todavia, temos falado aqui no Blog Hipnogastro da ampla gama de doenças orgânicas que associam de modo mais ou menos imperativo as questões psicoemocionais.

Além disso, temos falado também de inúmeras desordens funcionais, como a Síndrome do Intestino Irritável, as Dispepsias Funcionais ou mesmo a Fibromialgia, onde o componente psicoemocional possui uma relação muito mais estreita com a sintomatologia apresentada pelo paciente, assim como com a própria origem do problema.

Neste texto, ao discorrer sobre a relação entre medicamentos e terapia, dispensarei as questões puramente de cunho conceitual entre um tratamento e outro, preferindo partir para as suas reais implicações no contexto que vivemos nos nossos dias.

Medicamentos ou terapia?

Ao colocar desnecessariamente terapia contra as medicações (e vice-versa), podemos estar jogando fora o bebê com a água do banho.

Como médico fui treinado no uso da abordagem ou modelo biopsicossocial para avaliação e gestão das pessoas que procuram minha ajuda. Todavia, tanto a observação clínica, quanto a propedêutica complementar e o tratamento, mantiveram (assim como ainda mantém na grande maioria das escolas médicas), seu caráter mecanicista. Como cirurgião, fui treinado para ser cartesiano, centrado no resultado. Um novo elemento foi adicionado ao mecanicismo: o intervencionismo.

Aí me deparei com a prática trazida pela experiência. Pelo dia a dia. Pelo caso a caso. Percebi que de fato as doenças raramente são devidas a uma única causa. Em geral, elas se desenvolvem por meio da complexa interação de fatores biológicos (genes e desequilíbrios químicos), psicológicos (cognição, comportamento, personalidade e habilidades de enfrentamento) e sociais (trabalho ou problemas financeiros, relações familiares, etc.).

A abordagem biopsicossocial, que ao longo dos anos foi eclipsada pelo pensamento da cura pela “pílula” ou pelo “bisturi”, parece finalmente fazer total sentido.

Dentro e fora do hospital, passei a ter mais sucesso quando trabalhando com equipes multidisciplinares, compostas por diversos profissionais: médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas. Esta se tornou a tônica inclusive, de um dos meus mais importantes feitos científicos até aqui: o Protocolo Multimodal ACERTO (Aceleração da Recuperação Total pós-operatória).

De fato, Diretrizes Nacionais e Internacionais nas mais variadas especialidades médicas, passam cada vez mais a defender o uso da abordagem biopsicossocial no tratamento de diversos tipos de doenças. Mas ainda assim, na prática, a expectativa é que eu, como Médico, prescreva apenas medicamentos para todos os pacientes.

Existem, é claro, certas condições em que a medicação deve ser a base do tratamento. Por exemplo, agravos infecciosos, distúrbios endócrinos ou metabólicos graves, a quimioterapia para o câncer, os transtornos psicóticos como a esquizofrenia, entre tantos outros…

Mas a pergunta é: na prática, qual o percentual de pacientes com este perfil nos procuram em nosso consultório?

Este gráfico foi retirado de um estudo sobre a prevalência dos transtornos digestivos funcionais na população geral. Problemas como a Dispepsia e a Dor epigástrica (queimação) funcional, podem acometer até 40% da população (doenças como asma ou diabetes, apenas cerca de 8%). Essa brutal diferença ilustra o que encontramos também em nossos consultórios.

Pela minha experiência clínica, esses também são os pacientes que têm maior probabilidade de se beneficiar de terapia. Medicamentos muitas vezes serão usados, mas para que haja real sucesso no tratamento o diferencial será a terapia.

Uma abordagem integral

A verdade inconveniente para muitos é que nestes problemas funcionais a medicação pode ter um papel muito limitado a desempenhar. Os comprimidos podem ajudar a aliviar os sintomas, mas não necessariamente tratarão as causas subjacentes. Por esse motivo, uma abordagem integral para o tratamento destes problemas terá que ir muito além da prescrição de medicamentos.

Terapia e Hipnoterapia

Mas, o que exatamente quero dizer com terapia? Na verdade, há um grande número de abordagebs e técnicas que lidam com a subjetividade humana: por exemplo, psicanálise, terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia ocupacional, musicoterapia e aconselhamento (programas como Alcoólicos Anônimos e similares), entre muitos outros.

Tenho falado ainda dos excelentes resultados, comprovados pela evidência científica, com emprego das técnicas baseadas em Mindfulness.

Mas abro aqui um parênteses para falar da Hipnose. Optei pela Hipnose como um modo de comunicação no set terapêutico.

Na Hipnoterapia, a hipnose ou a linguagem hipnótica é inserida como uma ferramenta útil para facilitar o emprego das técnicas psicodinâmicas, behavioristas, cognitivo-comportamentais e humanistas, o que permite um acesso mais assertivo para a maioria dos casos, às questões que envolvem o sofrimento ou a disfuncionalidade do indivíduo.

Hipnoterapia conta com o aspecto do encorajar ‘fazer’ e aprender habilidades práticas, como a auto-hipnose, e não apenas ”falar”. Reforça ainda um outro elemento, muito presente na psicologia humanista: a importância do relacionamento do paciente com o terapeuta (frequentemente chamado de aliança terapêutica).

As pesquisas mostram que isso desempenha um papel muito importante no resultado da terapia, independentemente da abordagem utilizada.

Outro benefício é que ela nos encoraja a prestar muita atenção ao nosso mundo interno (sentimentos e pensamentos) e isso por si só pode ser terapêutico.

As hipnoterapia proporciona momentos de hiperfoco onde este mundo interno pode ser reconhecido, validado, compreendido e explorado – acredito fortemente que é aí que reside um dos seus maiores benefícios.

Há os que advogam a Hipnoterapia como uma técnica rápida para a resolução de problemas. De fato ela se enquadra como uma terapia breve, cujos efeitos parecem ser perceptiveis mesmo após poucas sessões.

Terapia breve é um tratamento psicológico que tem como especificidade a ênfase no trabalho com um foco. A maioria dos autores trabalha com um limite de tempo, definido logo de início ou depois de algumas sessões.

Mas há um engano em se pensar que terapias deste tipo possam substituir abordagens clássicas porém com resultados que surgem de modo mais lento, como o caso da própria psicanálise ou acompanhamento a médio longo prazo com um psicólogo. Mais uma vez aqui penso na associação de métodos e não em qualquer forma de exclusivismo.

Melhorar nosso bem-estar e saúde mental é uma habilidade que pode ser aprendida e desenvolvida ao longo do resto da vida. É uma habilidade que requer prática diária consistente, assim como aprender um instrumento musical ou uma língua estrangeira. Estejam certos: não existem saúde mental sem disciplina!

Por mais médicos treinados em terapia

Como professor de medicina há mais de 15 anos, acredito que os novos médicos precisam possuir conhecimento e habilidades, ainda que elementares, em terapia baseadas em evidências, para que assim possam atuar como especialistas médicos, consultores, administradores de equipes de serviços clínicos, colaboradores de cuidados compartilhados e facilitadores de futuras gerações de profissionais de saúde.

A experiência em terapia aumenta a capacidade do médico de usar uma formulação biopsicossocial para orientar a avaliação e as decisões de tratamento, formar e manter alianças terapêuticas, motivar os pacientes a engajarem no seu tratamento e comportamentos de promoção a saúde, e gerenciar eticamente a complicada dinâmica das relações médico-paciente.

Médicos devem usar o que é melhor para seus pacientes e ser treinados em uma ampla gama de tratamentos eficazes.

Com base em 50 anos de pesquisa de resultados e processos, fica claro que não só medicamentos ou operações, mas TAMBÉM a abordagem psicoemocional é útil para pacientes com os mais diversos e mais prevalentes problemas de saúde em nosso meio.

Portanto, considero este novo paradigma como um componente crítico a ser preservado no treinamento e na prática dos Médicos que enfrentarão este novo século.

Dr. Alberto Bicudo – CRM/MT 3841.

Recommended Articles

Leave A Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *