Você já ouviu falar em #undieting? Trata-se de um movimento que vai contra tudo que você já ouviu falar sobre dietas para emagrecimento.
A propósito, se você assim como eu, tem ou já teve problemas em controlar seu peso, quantos tipos diferentes de dietas restritivas já tentou?
E o pior, já parou para pensar que mesmo quando não estamos fazendo dieta, temos uma alimentação desordenada com base em … todas as dietas. Segundo estudos recentes, 90 a 95% das pessoas que fazem dietas restritivas conseguem perder peso, mas voltam a engordar.
Talvez seja hora de mudar tudo isso não acha? Então vamos ao UNDIETING.
O que é Undieting?
Este movimento vai contra o “terrorismo” nutricional. Contra a idéia de que existem nutrientes “vilões” ou “heróis”. O objetivo é a criação de um comportamento alimentar, o que vai muito além da restrição de calorias ou de grupamentos alimentares.
Favorecer a conscientização da relação emocional existente entre nós e a comida, levando em consideração as nossas necessidades fisiológicas, psicoemocionais e biológicas. Comer de modo consciente e atento em relação a que comemos e o que sentimos ao comer.
Não é uma tarefa fácil. Fomos condicionados a acreditar no senso comum em relação a alimentação desde que nascemos. Crenças profundamente arraigadas não podem ser desalojadas simplesmente pela introdução de uma ideia oposta.
Então devemos buscar sermos capazes de distinguir entre crenças e fatos. Este é um passo essencial para aprender a mudar nossas crenças e, portanto, nossa experiência. Este processo fará parte da sua jornada rumo uma alimentação consciente.
A indústria de dieta
A indústria de dieta é uma indústria de 70 bilhões de dólares POR ANO. Este sistema foi projetado para (1) não ser sustentável a longo prazo e (2) convencê-lo de que você falhou porque não se esforçou o suficiente, não seguiu todas as regras ou não teve força de vontade suficiente.
É normal estar insatisfeito com este sistema. Na verdade, espero que você, assim como eu, também esteja. Afinal, esta pode ser a única maneira de cortá-lo.
Você já parou para pensar que temos uma tendência a procurar alternativas reducionistas, que muitas vezes transformam nossas escolhas em dilemas? Um dilema é uma situação sem meio termo, onde você terá que escolher entre duas premissas contraditórias e mutualmente excludentes.
É como tomarmos nossas decisões e julgamentos em preto ou branco, quando na realidade, entre o preto e o branco existe um leque enorme de opções. Considere então esta alucinante idéia: você pode comer por prazer e fazer uma alimentação saudável ao mesmo tempo.
Os dois conceitos não são mutuamente exclusivos. Na verdade, provavelmente você acabará mantendo uma dieta mais saudável no longo prazo, ao comer alimentos que o deixam feliz.
Brad Turnwald, um pesquisador do departamento de psicologia da Universidade de Stanford, aponta isso em sua pesquisa: “Acho que é realmente importante promover um maior senso de degustação de comida na cultura americana, em outras culturas que também têm muito menos doenças crônicas do que nós – a França é um exemplo canônico – eles comem por prazer lá, e eles (geralmente) não tem essa rotulagem de certos alimentos como ‘bons’ e outros como ‘ruins’. Comida é para ser apreciada”.
Essa ideia de comer para se divertir é “uma premissa crítica onde os profissionais de saúde involuntariamente erraram nas últimas duas décadas”. É o que diz Christopher D. Gardner, diretor de estudos de nutrição do Centro de Pesquisa de Prevenção de Stanford e professor de medicina na Universidade de Stanford.
O sistema de saúde está focado em diabetes, câncer e doenças cardíacas, diz ele. Como essas doenças são afetadas por alimentos e nutrição, a sociedade passou a pensar que “estamos nos divertindo muito com coisas açucaradas, gordurosas e salgadas. Devemos comer coisas mais saudáveis que tenham menos disso e menos daquilo, e restrição, e não fazer aquilo. Muito negativo, certo? “
E por falar em alimentação saudável, precisamos entender que, exatamente da mesma maneira que comer por prazer varia de pessoa para pessoa, o mesmo ocorre com o que é saudável ou não para você. Cada corpo tem necessidades diferentes e responde aos alimentos de maneiras diferentes.
Em 1965, Roger Williams, um famoso bioquímico, publicou o livro “Biochemical Individuality”, onde demonstra que existem variações no tamanho, forma, localização e capacidade de praticamente todos os nossos órgãos internos.
Ele mostrou que há uma diferença enorme na taxa metabólica de uma pessoa para outra. Ele encontrou grandes variações no conteúdo de água e na capacidade de transporte de oxigênio do sangue de uma pessoa para outra. Em suma, assim como todos parecemos diferentes por fora, também funcionamos de maneira diferente por dentro e temos necessidades nutricionais diferentes.
O que explica essas variações em como absorvemos ou usamos a energia? Aqui estão algumas respostas para você pensar a respeito:
- Seu código genético. Os nutrientes dos alimentos que você ingere podem ativar e desativar certos genes e alterar a velocidade com que atuam. Atividade, estresse e outros fatores de estilo de vida também podem estimular a produção de hormônios e neurotransmissores que regulam a forma como seus genes são expressos;
- Certos medicamentos que você faz uso;
- Doença como diabetes tipo 2, doenças autoimunes, etc.
- A composição bacteriana de seus intestinos;
- Toxinas ambientais às quais você está exposto perturbam seu sistema endócrino;
- Seus sentimentos em relação ao alimento que está prestes a comer e os problemas intestinais relacionados ao estresse podem afetar indiretamente o metabolismo por meio da alteração da absorção;
Considerando o fato de que cada corpo é diferente, que milhares de fatores desempenham um papel e que a preferência / prazer pessoal faz parte do processo, faria sentido que nenhuma pessoa / dieta pudesse lhe dizer a “maneira certa” de comer.
PROBLEMAS DAS DIETAS RESTRITIVAS
Na abordagem tradicional da alimentação, e aqui incluo o uso de dietas restritivas, o foco está totalmente voltado para as questões biológicas que envolvem a natureza do alimento. A questão comportamental envolvida com o ato de comer é totalmente desconsiderada.
Isso traz enormes contrassensos que temos enorme dificuldade em lidar. Por exemplo, você sabe que salada é mais saudável que um bolo de chocolate, porém em um aniversário não é mais saudável comer um bolo?
O comportamento alimentar ajuda a compreender vários aspectos da comida, inclusive o psicoemocional. Endeusar ou demonizar alimentos, algo muito presente em dietas restritivas, pode ter um efeito paradoxal. Você já parou para pensar no efeito sobre a nossa mente em termos certos tipos de alimentos que são deliciosos, mas “proibidos”?
Quando uma coisa é proibida ela se torna mais atrativa. Os seres humanos não gostam de proibições nem de imposições pois veem sua liberdade ameaçada, algo extremamente valioso para nós. Se nos dizem que é totalmente proibido comer chocolate, pães ou algum alimento em concreto, estaremos o tempo todo com a tentação na cabeça e vamos acabar sucumbindo a ela.
Segundo a nutricionista Sophie Deram, uma das principais vozes do Undieting no Brasil, dietas restritivas podem desequilibrar nosso organismo. Pode até vir a emagrecer, porém, as chances de engordar novamente após sair da dieta são altíssimas.
Ocorre um efeito rebote, fazendo com que a pessoa coma de uma maneira abundante e compulsiva. A consequente vergonha, culpa ou a frustração por sua vez poderá gerar um comportamento no sentido de fazer qualquer coisa para expulsar esse alimento. Temos aqui a gênese dos distúrbios alimentares.
Exatamente, dietas restritivas podem ser um gatilho para transtornos alimentares graves. O TCA (Transtorno de Compulsão Alimentar) é o mais comum. Além deste, o indivíduo pode desenvolver outros problemas como a bulimia e a anorexia nervosa.
Todavia, é importante lembrar aqui que, obviamente, nem todo mundo que passa por uma dieta restritiva irá desenvolver algum desses transtornos. Estes são problemas multifatoriais. A dieta restritiva pode ser, como disse, um gatilho.
3 PASSOS PARA A PRÁTICA DA UNDIETING.
Coma quando tiver fome.
É importante escutar o que seu corpo fala, não fique sem comer quando você tem fome e sim escolha os alimentos certos na hora certa.
Alimentos não são vilões.
De acordo com os conceitos do comportamento alimentar, demonizar certos alimentos não é a solução. Para fazer uma boa alimentação é necessário ter hábitos e equilíbrio em tudo que você ingere.
Consciência alimentar: atenção plena ao comer.
Geralmente comemos apenas por conveniência e não por estar realmente com fome, é necessário ter consciência sobre o que você está comendo e por quê.
Para terminar, algumas dicas valiosas:
- Honre a comida / refeição com algum tipo de contemplação, seja uma oração, gratidão ou intenção.
- Crie um ambiente calmo com pouca ou nenhuma distração enquanto você está comendo.
- Envolva todos os seus sentidos.
- Comece com porções modestas (e encha quantas vezes quiser, não se trata de comer menos).
- Saboreie e mastigue bem.
- Faça o seu melhor para não pular refeições.
- Seja paciente e curioso consigo mesmo.
- APROVEITE você mesmo, sua comida e sua vida.